O nome de Ricardo Salgado é hoje omnipresente nos meios de comunicação nacionais. O antigo presidente do Banco Espírito Santo foi durante décadas o homem mais poderoso da banca nacional e está hoje no centro do escândalo internacional que envolve o Grupo Espírito Santo.
Neste artigo vamos responder à questão “quem é Ricardo Salgado do BES“, construindo a sua biografia, desde o início da carreira até à crise do Grupo a que presidia e que ditou a sua saída.
Infância e Educação de Ricardo Salgado
Ricardo Espírito Santo Silva Salgado nasceu em Cascais, a 25 de junho de 1944. É bisneto do abastado comerciante José Maria do Espírito Santo Silva e neto de Ricardo Ribeiro do Espírito Santo Silva, economista e banqueiro que fundou em 1920 o Banco Espírito Santo.
Os primeiros anos de vida de Ricardo Salgado foram passados em Lisboa. Residiu durante a infância na Lapa, bairro onde frequentou uma escola primária pública. Mais tarde foi estudar para o conhecido Liceu Pedro Nunes.
Terminou a sua licenciatura em Economia em 1696, no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, da Universidade Técnica de Lisboa.
Após se licenciar, fez o serviço militar ao serviço da Marinha, mais concretamente no Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval.
Percurso Profissional
O percurso profissional de Ricardo Espírito Santo iniciou-se em 1972, no Banco Espírito Santo Comercial de Lisboa, onde assumiu a chefia do gabinete de estudos económicos. Mais tarde, passou também a liderar a direção de crédito desta instituição.
Em 1975, o Banco Espírito Santo Comercial foi nacionalizado e Ricardo Salgado resolveu abandonar o país. Foi a partir do estrangeiro, que o banqueiro se envolveu de forma ativa na recuperação do Grupo Espírito Santo.
Ricardo Espírito Santo viveu durante seis anos no Brasil e durante nove anos na Suíça. Durante estes 15 anos conseguiu revitalizar o Grupo Espírito Santo, preparando o terreno para o regresso a Portugal.
Limitado pela Constituição Portuguesa, que impedia as privatizações, criou o Banco Internacional de Crédito em 1986.
Contudo, o seu grande objetivo de reprivatizar e voltar a controlar o Banco Espírito Santo apenas foi cumprido em 1991. A alteração da Constituição permitiu que a família Espírito Santo voltasse a controlar o banco que Ricardo Espírito Santo Silva havia fundado.
Este novo cenário fez com que o Banco Internacional de Crédito fosse absorvido pelo BES e que Ricardo Salgado assumisse a presidência executiva da instituição bancária.
O seu trabalho no BES foi alvo de rasgados elogios, aumentando a quota de mercado do banco de 8 para 20%. Apostou fortemente na internacionalização do Banco Espírito Santo, o que também lhe trouxe notoriedade internacional.
Foi nomeado para o Quadro de Supervisão da Euronext em 2002 e quatro anos depois esteve envolvido no processo de fusão do New York Stock Exchange com a Euronext. Entre 2003 e 2012 foi também Administrador não Executivo do banco brasileiro Bradesco.
Ricardo Salgados desempenhou papéis de relevo nas diferentes empresas do Grupo Espírito Santo (GES):
- Presidente da comissão executiva e vice-presidente do conselho de Administração do BES;
- Pertenceu ao conselho superior do GES;
- Presidente do Conselho de Administração do Espírito Santo Financial Group (Luxemburgo);
- Presidente do Banco Espírito Santo de Investimento;
- Administrador do E.S. International Holding (Luxemburgo);
- Administrador no Espírito Santo Resources (Bahamas);
- Administrador no Banque Privée Espírito Santo (Suiça);
- Administrador no Espírito Santo Bank of Florida (EUA);
- Administrador no Banque Espírito Santo et de la Vénétie.
Anos de Sucesso de Ricardo Salgado À Frente do BES
Ricardo Salgado foi o cérebro responsável pela internacionalização do BES, apostando fortemente na expansão para Espanha, Brasil e África. A aposta na internacionalização rapidamente deu frutos, representando cerca de metade dos lucros obtidos pelo banco.
Em plena crise, o BES foi o único dos principais bancos portugueses a conseguir realizar uma operação de aumento de capital, sem precisar de recorrer ao financiamento governamental.
O BES de Ricardo Salgado foi também o único banco nacional envolvido na operação de gestão do regresso de Portugal aos mercados, em 2013.
A notoriedade de Ricardo Espírito Santo no sector financeiro foi por diversas vezes reconhecida através da atribuição de diversos prémios e galardões, como “Economista do Ano” (Associação Portuguesa de Economistas, 1992), “Personalidade do Ano (Câmara Portuguesa de Comércio do Brasil, 2001). Recebeu também condecorações em Portugal, França, Brasil e Hungria.
A Queda de Ricardo Salgado
O primeiro grande escândalo a envolver o nome de Ricardo Espírito Santo surgiu em 2013, quando a imprensa portuguesa noticiou que o líder do BES se havia esquecido de declarar 8,5 milhões de euros na sua declaração de IRS.
A entrega de três retificações de IRS resultou no pagamento de mais 4,3 milhões de euros, relativamente ao que Salgado havia pago inicialmente.
Mas o pior ainda estaria para chegar. O final de 2013 e o início de 2013 foram marcados pela guerra de poder no interior do BES. Ricardo Salgado encontrou no seu primo José Maria Ricciardi um forte opositor.
Ricciardi, presidente do BESI Investimento e membro conselho de administração do BES tentou forçar a saída de Salgado, com o objetivo de assumir a presidência do banco. A disputa pelo poder arrastou-se durante meses, merecendo um grande destaque na imprensa portuguesa.
A 13 de Fevereiro de 2014, a crise do BES tornou-se evidente. Nesse dia, o banco apresentou as contas de 2013, onde sobressaía um prejuízo de 518 milhões de euros.
No dia 21 de maio, o Banco de Portugal revelou que a auditoria realizada às contas da Espírito Santo Internacional encontrou irregularidades. Além de não ter contabilizado dívidas no valor de 1,2 mil milhões de euros nas suas contas de 2012, o ESI apresentava capitais próprios negativos de 2,5 mil milhões.
Estas notícias terão sido o mote para o pedido de demissão de Ricardo Salgado, do seu cargo de Presidente da Comissão Executiva do BES e para o posterior abandono da presidência do BESI.
A 24 de julho de 2014, foi detido, na sua residência no Estoril, por alegado envolvimento na operação Monte Branco. Seria libertado no mesmo dia, sujeito ao pagamento de uma caução no valor de três milhões de euros.